quarta-feira, abril 07, 2010

Da morte algumas questões

Um amigo meu, médico, leu esta notícia no Público e atribuiu-lhe bastante qualidade. Foram tidos os criminosos do costume, Lobo Antunes, J e Serrão, D. Mais uns quantos que esses sim disseram coisas interessantes. Mais ainda, o artigo evitou cuidadosamente a palavra "encarniçamento", que recentemente se tem vindo a aplicar às situações em que o médico prossegue terapêuticas que afinal apenas prolongarão o sofrimento de um doente.... final. Encarniçamento é uma palavra muito feia. E enviesada. A morte está muito pouco na Medicina como pouco está na Sociedade. Hoje ninguém morre em casa, todos morremos no hospital. Mas o meu amigo médico poupou-me a prosseguir este também repetido raciocínio. "A morte? Queres que eu te fale dela? Olha, era eu muito novo e fazia urgência num grande, grande hospitaL. Ainda não havia INEM, os doentes chegavam da rua virgens de qualquer medida terapêutica ou manobra de ressuscitação. E havia que fazer alguma coisa, e fazias. E fazias e fazias e fazias. Mas era sempre tarde demais. Cheguei a assinar até quatro certidões de óbito numa noite, acho que foi o record. Novos e velhos. Por isso nunca me apanharás a dizer - muito - mal do INEM. Ora assim ganhas muita experiência da morte. Ai isso ganhas. E experiência em informar familiares da morte de um ente querido. Os tempos são outros? São, e não são. Estes médicos são produto dos tempos e das gentes à volta. Nas faculdades fala-se mais da morte do que antes. Fala-se mais ou menos, tal o ensino que há. Mas, por favor, mandem pró caralho a puta da palavra "encarniçamento", ok? Tás de acordo, não? Ora saboreia a merda da palavra..." O artigo evitava a palvra. Paguei-lhe um café.

2 Comments:

Blogger Sr Blas said...

Bienvenido. Qué tal las vacaciones? Cortas?

4:47 da tarde  
Blogger William said...

Justitas, nevadas. Cortas en un sentido. Um abraço.

5:38 da tarde  

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