sexta-feira, março 13, 2009

A minha contribuição para o Plano Nacional de Leitura


Ontem foi dia grande para o Plano Nacional de Leitura deste país, eu e a minha filha fizemos uma leitura conjunta em plena aula de Português de um obscuro 5º ano neste país de subúrbios remediados.
Antes de mim outro pai se dispôs ao mesmo “papelinho”, como antes se dizia. Tratava-se do delegado dos pais da turma em questão, eu mal o conhecia, defeito meu. Um pouco conversámos, agradeci-lhe um email informativo, era o mínimo. Depois entrámos, cumprimentei a minha filha pondo-lhe a língua de fora, recebi igual resposta, dizem portanto que se parece comigo. A Boavista é um sítio onde muita gente tem vários compromissos, e costuma ser “às seis”, assim o outro pai - que me pediu para ler primeiro. Obrigado. A leitura foi de um conto dos irmãos Grimm, chamado julgo “O Arrependimento”. Não dos meus conhecidos, e não ficou a ser dos meus favoritos. Parece porém que a colectânea pertence ao tal Plano Nacional de Leitura, olaré. O conto em questão metia a Virgem Maria, idas e vindas entre o céu e a terra, e tudo girava à volta dos perigosos pecados da curiosidade, da mentira e do orgulho, génese de todos os males que esta Terra afligem, e neste conto quase levavam uma menina literalmente… à fogueira, ora nem mais. Este pai meu antecessor, que fez uma leitura também em conjunto com o filho mas onde 96,43% das falas eram suas, abriu no fim da prelecção um pequeno espaço de debate que infelizmente as crianças não aproveitaram – afinal estas crianças de hoje com dez, onze anos, ainda se assustam com a perspectiva de uma criança ser queimada viva.
Depois nós. Pois. A minha filha escolhera o 2º acto da peça “A Asa e a Casa” da Teresa Rita Lopes, que tínhamos visto representada pela Pé de Vento há pr’aí dois anos – mas ela lembrava-se bem. O texto não tinha propriamente moral nenhuma e eu matreiramente apenas assegurava para aí 60-65% da posse de bola, ou não fosse eu um bonecreiro a tentar puerilmente seduzir uma rapariga vendedeira de bolos. Aqui também sobrevoavam pecados mas parece-me que mais veniais: o riso, a poesia, as artes teatrais. No fim não abri espaço para discussão nenhuma, o professor de Português, um rapaz de mangas arregaçadas com aspecto mais de Trabalhos Manuais, queria era mesmo começar a aula. Ao descer as escadas cumprimentei o meu parceiro de leitura dizendo que os dois textos lidos de alguma forma tinham sido complementares… Eu acho que ele compreendeu a ironia.

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