sábado, abril 19, 2008

Maré 2008


A música brasileira tem um problema major a saber: um grande mercado de comprantes, os brasileiros, mais de centena e meia de milhão, e que facilitam o êxito ad eternum de qualquer músico minimamemte capaz e habilitado, de voz, de composição, de violão debaixo do braço.
Adriana Calcanhotto ganhou asas no excelente “A Fábrica do Poema”, e prometeu extilhaçar fronteiras em “Maritmo”. Não era porém uma novata, ao possuir dois discos prévios, de qualidade crescente. Tudo isto no século que passou. No séc. XXI, tivemos “Cantada” e o interlúdio como Adriana Parti-Pim, bem como diversas digressões apoteóticas, com Portugal incluído. O perigo estava à vista.
Adriana é uma boa intérprete, com uma voz limitada mas da qual sabe retirar inflexões inquietantes. Porém, ao não ter cuidado podem as suas tonalidades vocais roçar a monotonia, se não houver explosão na canção, se não houver diferença no arranjo. E assim as qualidades que sobravam em “Maritmo”, a diferença, o arrojo, a busca de um brasileirismo diferente do velho violão não estão em “Maré”. Da diferença ao bocejo a distância pode ser apenas um golpe de asa ou a sua ausência. Assim como Marisa Monte é solar Adriana é a mais lunar das vozes, o que tem obrigações contratuais específicas, que aqui não se cumprem.
Não é que seja um mau disco. Não há é aqui um projecto um caminho, um desafio, a busca de uma solução. Quase mais do mesmo, portanto, o que não é mau de todo, pois assim vamos ter mais tournées, mais sucesso.
Há muito tempo Adriana parou de “comer Caetano”, por isso assassina a canção “Onde Andarás”, não enche “Mulher Sem Razão” de Cazuza. A colaboração dos “meninos” Moreno+Kassim+etc não chega, a produção do omnipresente Arto Lindsay também não voa alto. Salva-se e muito o poema “Para Lá” de Arnaldo Antunes… música Adriana – ainda haverá esperança?

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