quarta-feira, abril 16, 2008

A doença é minha!

"Existe um colonialismo das doenças", refere um amigo meu, que é médico. "És um tipo qualquer, médico, físico, biólogo, uma destas coisas, descobres uma constelação de diferenças, de erros, de alterações do normal e acabas por lhe dar um nome, o teu nome, como se isto fosse a Polinésia e tu o Capitão Cook." Falamos de achados, diferenças, limitações e achaques que o são para quem deles padece, todos os dias, realmente ou através daquela ameaça terrível que é a das situações latentes, vulgo Espada de Dâmocles, etc e tal.
"Porque não atribuir o nome de uma destas terríveis doenças não ao "inventor" da coisa, que se safou saudável da silva e resolveu morrer de uma outra qualquer indisposição mas sim a alguém conhecido que realmente tenha apanhado com a maleita e, de preferência, tenha convivido bem com a mesma? Porque não desaparecer a Doença de Parkinson e aparecer a Doença de Muhammad Ali, ou do Johnny Cash?" O meu amigo é um incréu, por isso omitiu de propósito o pretérito Papa. Mais disse ele - que estas doenças são de um peso enormíssimo nos ombros de quem as tem, de quem as acompanha. Sofrem ao mesmo tempo de uma longa cortina de invisibilidade para a larga maioria que delas não sofre, e portanto as desconhece ou apenas reconhece um rabisco grosseiro de, um esboço errado, uma sombra. "Porque não renomear a doença conforme os bons exemplos de convivência com a mesma, "de bairro para bairro", aqui a Doença da Rita, ali a Doença da... Sandra, por ex.?"
O Dr. James Parkinson descreveu a "sua" doença como "a involuntary tremulous motion, with lessened muscular power, in parts not in action and even when supported; with a propensity to bend the trunk forwards, and to pass from a walking to a running pace: the senses and intellect being uninjured". Os doentes com Parkinson, perdão, com a doença deles teriam tão mais coisas para contar!

Etiquetas: ,