sábado, janeiro 27, 2007

2006 White Bread Black Beer


Green Gartside, nome artístico de um rapaz de Cardiff nascido já no longínquo ano de 1955, começou nas andanças musicais na esquerda punk de Camden, perto duns Young Marble Giants, por ex. Porém, como muito outra boa gente, cedo emigrou para outros sons, como aliás a sua voz recomendava. Em 1981 uma cassette esquecida que passou na rádio revelou um tema "The Sweetest Girl" que, anos depois surgia no LP "Songs to Remember"e o grupo chamava-se Scritti Politti. Soul, funk, reggae, dub, pos-punk, o rapaz disparava em todas as direcções, tal a explosão de ideias. 3 anos depois de cantar punk intelectual pelos palcos do norte de Londres, Green cantava soul puro em "Faithless", outro tema-chave do disco.
Outros três anos depois, "Cupid and Psyche 85" era Green rendido ao som novaiorquino das pistas de dança. "WoodBeez", "Absolute" e músicos do outro lado do Atlântico (eg. Fred Maher ex-Material) compunham o ramalhete. E quem não dançou estas coisas? Aqui o som já era só um, o objectivo mais definido, a voz juvenil a unir as peças. Em 1988 "Provision" foi mais do mesmo. Com Miles Davis a dar uma perninha no trompete, o som era demasiado igual, e já tinham passado 3 anos. Não havia novidades. E Green desapareceu de boca de cena.
Em 1999 voltou com "Anomie Bonhomie". À questão de como voltar, Green resolveu esconder-se durante parte do disco por trás de alguns hip-hopers como Mos Def, e fazer deslizar a sua voz pelo meio, discretamente, para recuperar o groove, e fazer voltar a boa estrela. Disco híbrido, com 3 ou 4 escusados "fillers", tem também 3 ou 4 óptimas canções, as mesmas vocalizações imperdíveis, e serviu como criação de expectativas. Aliás, nós sabíamos que Green era um bom compositor de canções.
E 2006 foi o ano ideal para Green Gartside fazer reviver os Scritti Politti como Dios manda. Disco feito em casa com acrescentos de amigos, é basicamente um pop melancólico e bonito, com a voz do cinquentagenário a parecer ter 14 anos, produção escassa e discreta, elegância supina, nostalgia e boas canções. Cai muito bem. Se queriam música genial é favor viajar até 82. Nestes dias de vacas magras, terá sido dos melhores discos do ano passado. As (muito ocasionais)passagens Garfunkel-like serão apenas um "fait-divers"...

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