quarta-feira, dezembro 20, 2006

A Sexta

Meu caro:

Venho por este meio desobrigá-lo de uma missão: salvar o mundo.
Efectivamente desde há já uns anos tenho vindo a reparar no seu sempre cenho franzido, a sempiterna fronha. A razão está do seu lado, eu sei, mais propriamente à sua esquerda, e os agradecimentos até já foram por escrito. Conheço a modéstia que exibe: é um diáfano manto, é uma fantasia. E a sua indisposição é como aquele x por cento com que Portugal participa no incumprimento de Quioto: não é um valor por aí além, mas não deixa de chatear sempre um pouco.
Ó homem, anime-se, há coisas piores, até lhe digo mais, o não ser indispensável para nada nesta vidinha abre-lhe vastas opções!
Sabe, agora outro assunto: ouvi dizer que se está a separar da sua esposa.
Como sabe conheci a sua esposa fazendo-a chorar. Desde então ficámos grandes amigos, ou cúmplices, será esta talvez a palavra certa. Mal nos vemos começamos logo a rir, a compensar pecados antigos, vasos virados. Estamos a falar de alguém que é muito boa gente, e muito bonita, lindíssima até. Duas coisas: que primeiro você é burro; que segundo pelas últimas previsões da vida da pobre moça tudo indica que - estesudoeste - a mesma vai melhorar com a sua abstenção. Ou abstinência, o que fôr. Com isto me contento.

Atentamente e só

W.

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