Ainda o Cesariny - example of a flawless poem
Mário Cesariny só terá talvez sido excedido por Pessoa no século que passou na capacidade excelsa que tinha de parir poemas PERFEITOS - redondos, mágicos, cintilantes. Com a vantagem - sobre Pessoa e heteronomía - de serem poemas com paixão anexa.
Como muitos outros blogs, mas como exemplo do que acima se diz, aqui vai um dos ´"já clássicos":
O navio de espelhos
não navega, cavalga
Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível
Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos
Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele
Os armadores não amam
a sua rota clara
(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)
Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga
O seu porão traz nada
nada leva à partida
Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta
E no mastro espelhado
uma espécie de porta
Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto
A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto
Quando um se revolta
há dez mil insurrectos
(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)
E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo
Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)
Do princípio do mundo
até ao fim do mundo
in A Cidade Queimada, 1ª ed 1965, últ. ed. 2000, Ass. & Alvim (antologiado com ensaio crítico também no "Século de Ouro...").
PS.: mas bom-bom mesmo é conhecer a poesia de Cesariny outra, a menos "turística", cheia de ironia, bicos e desastres e cancioneiro...
Etiquetas: transcrições
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