quinta-feira, abril 20, 2006

Miguel Sousa Tavares e o Cerco

Enviaram-me um texto do MST, publicado no Expresso, que por tratar de várias coisas e ter muitos ângulos por onde se dissecar, assim vai ser dissecado.
MST defende neste texto o seu direito ao vício. E eu, menos viciado do que ele, parece, em algum espírito do que diz concordo. é verdade que caminhamos para um não sei quê de mais policial e abusivo do que antes. Mas e porém...
Como grande parte dos polemistas, MST mistura alhos com bugalhos para levar a sua avante: e assim, ser heterossexual, fumador e caçador, é mais ou menos a mesma coisa...
Vejamos: sobre a adopção de crianças por um casal homossexual, MST defende a primazia dos direitos da criança. Claro, mas isto fecha a discussão?
Fumar num espaço fechado com não fumadores não é o exercer de um direito mas sim contribuir directamente para a produção de doença em quem a doença não quer, por isso não fuma, certo? Quem fuma à porta de um bar não é um cão tinhoso, é uma pessoa a disfrutar de um vício só seu... "Fascistas da saúde"? Por amor de...
A caça não é um desporto, e hoje em dia muito menos nobre. É verdade que javalis, veados e outras coisa só existem porque são caçados em muitas dessas coutadas ditas herdades de caça turística. Isto não é obrigatório: o javali, o gamo, o veado, foram animais autóctones das nossas florestas. A sua beleza não nasce de serem caçáveis. Numa herdade sobrepovoada com estes animais, onde a pica e a dificuldade em matar? Os coelhos, as lebres e as perdizes sem caça também já não existiriam? Perguntem-lhes a opinião... Uma caça às perdizes é um imperdível, excepto para as pobres das perdizes... Os caçadores não são más pessoas, claro, e sociologicamente a caça não é algo que se possa extinguir hoje. Até pelo seu valor económico. Agora não lhe chamem actividade amiga do ambiente, ecológica, defensora dos campos e das florestas... pois uma floresta, ou uma campina não foi feita para o som de tiros. Ah, e não me venham com o sofrimento dos animais dos matadouros: um mal não justifica dois.
O mesmo raciocínio se aplicaria à pesca, embora filogeneticamente a nossa distância em relação ao peixe amorteça um pouco a repulsa. Por outro lado a pesca tem um perfil hormonal um pouco mais brando, menos androgénico... não curto, e pronto. Claro que a luta de morte com o peixe nunca termina com "pescador assassinado cruelmente por taínha"... ou "robalo deixa aficionado nos cuidados intensivos"...
De lado (que é menos pecado) falámos contra as quotas para as mulheres na política - tema sobre o qual não curso opinião, e contra a "reintegração" das "minorias", e aí vão quatro, muito iguais umas às outras: ciganos, drogados, artistas e os desempregados profissionais.
Ciganos: analizar a questão cigana em duas linhas é um insulto. E dizer isto para mim chega.
Drogados: podia repetir o parágrafo mas não. O drogado é uma pessoa doente. Claro que um potencial delinquente, e frequentemente um praticante. E é refractário à sua própria cura. Tudo isto tem inerente um juízo de culpa com dois lados: o primeiro é "eu não tenho culpa que ele seja assim"; o segundo é "ele também não tem culpa de estar assim". De notar a diferença entre ser e estar. Idem nos ciganos: eu tenho prazer em que os ciganos o sejam: dentro dos mesmo quadro de direitos, liberdades e garantias. Deles (e delas), e meus.
Os artistas: pois, o MST é um artista que vende... os artistas ou são bons ou não são bons. Nem sempre vendem muito. Com frequência não. Cabe à sociedade saber se precisa dos bons artistas que não vendem para alguma coisa. Quem decide se eles são bons? Difícil questão, há séculos que a procuramos resolver: uns entendidos, a SEC, o EPC, sei lá... o MST é que espero que não...
Os desempregados profissionais: aqui a coisa entortou mesmo. Portugal tem uma percentagem elevada de desemprego prolongado por falta de qualificação dos interessados para fazer outras coisas. Isto é uma realidade sociológica indesmentível. Chama-se a isto desemprego estrutural, não profissional. Uma linha também não chega para falar disto. Nós sabemos do que se está a falar. Mas cuidado...
Vou passar ao lado as touradas, espectáculo de uma inegável beleza, mas crudelíssimo para o touro, bicho que foi "inventado" apenas para a mesma tourada é certo, mas que por ele se contentava com ir cobrindo umas vacas de vez em quando... E não esqueçamos que a tourada à portuguesa é diversão de cavaleiros nobres onde no fim a pega de uns bravos recolhe o touro a entre tábuas para o esquartejo, tourada de risco e muito mais sangrenta a espanhola sim, e de raiz estritamente popular, mas onde por exemplo podemos citar a arte do picador, momento de rara beleza, não?
Depois falamos dos "cartoons", e aqui eu já falei também, e felizmente a coisa até já passou um pouco: a sociedade Árabe Saudita é tão má como a pinta (é pior ainda...), a Dinamarquesa é todo o bom descrito, vota a 15-20% num partido fascista...

Bendita a Sophia mãe que deu este fruto? Não. Bendita a mãe e só. É que ser agnóstico e ateu não é a mesma coisa, já agora.

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