quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Matchpoint - 1


"I just want to make some contribution..." Quem diz isto é o protagonista do filme Matchpoint, o amante de Scarlett,o "trepas". E é só isto? Queria ele mesmo dizer aquelas palavras? Ou eram já só uma casca, uma superfície de representação, um ectoplasma para iludir todos os presentes - "vejam eu existo, eu penso, eu sou fantástico, e sinceramente quero fazer alguma coisa" - mas contribuir como? O actor escolhido é uma imagem em espelho de Scarlett, o corpo ainda mais perfeito, os lábios de Simon Le Bon, os olhos convenientemente claros, e sempre a tentar um jogo de transparências com quem para elhes olhava. Estaremos a falar dum psicopata? Saimos do filme sem essa certeza, e aqui está o problema. Dostoievsky aparece destacado como leitura, "Crime e Castigo", uma piada premonitória. Chega um momento em que todos nos sentimos "imensamente culpados". Até que aprendemos a lidar com isso. E reparamos que ninguém se importa. Ou quer saber. E que a sorte, a bola de jogo, está do nosso lado, ao cair para o lado do adversário. Não sei, sinceramente não sei o que fazer com o primeiro plano da cara do protagonista, desviado, com que o filme acaba. Pela primeiríssima vez apetece dizer que esta opus de W Allen pede a sequel. Porque naquela cara eu vejo todo o peso desse balanço entre a sorte e a culpa. A palavra "cancro" vem de cancer, caranguejo. Eis como eu vejo aquela cara. Na imagem que aqui disponho estão amante e noivo a olhar para Scarlett. E o que significava ela para um e para outro? Para o noivo, haxixe de Ketama, do melhor. Para o amante droga dura, cocaína de Medellín. Talvez o plano final seja não mais do que alguém em síndrome de abstinência.

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