Rober Wyatt selections (One & Two)
Não é fácil falar sobre Robert Wyatt. Pode ser assim: trata-se de um recém-sexagenário inglês, casado com Alfreda Benge, e que nos anos sessenta foi baterista e vocalista dos Soft Parade, grupo que emulou os Pink Floyd na transição psicadelismo-rock progressivo. Em 1971 caiu de uma janela de um 3º andar e ficou paraplégico. Este corte traumático na sua vida obrigou a um reajuste lento e doloroso pessoal e musical. Dessa fase de transição ficam por exemplo as suas experiências com os Matching Mole, já iniciadas antes do acidente. Em 1974 saiu o disco Rock Bottom, produzido por Nick Mason. Mais do que progressivo tratava-se de algo novo, para além do rock, para além de tudo até então inventado. No mesmo ano teve um pequeno e extranho êxito de vendas com a adaptação em single do tema “I’m A Believer” dos Monkees (!). No programa Top of the Pops da BBC recusou-se a não aparecer de cadeira de rodas, criando assim um pequeno "fait divers" televisivo. Terminado o luto, logo no ano a seguir “Ruth Is Stranger Than Richard” era um brilhante conjunto de pistas sobre o que fazer a seguir, agora que a depressão acabara. Mas durante 6 anos não ouve mais nada. Subitamente no início dos 80’s o nosso comunista barbudo lança um disco “solidário”de versões e interpretaçoes por outras pessoas (incluindo um poema), “Nothing Can Stop Us”, na realidade uma reflexão sobre se ainda existia a “canção popular” no sentido revolucionário da palavra. E dois anos depois um disco cheio delas, “Old Rotten Hat”. Outro silêncio se seguiu, interrompido por exemplo pelo single de apoio à SWAPO “Winds of Change”, com produção notada de Jerry Dammers. Em 1991 aparece “Dondestan” (cujos temas aqui gravados nascem de uma revisão da produção em 1998), anti-Partido Conservador como sempre mas mais instrumental, evolução que seria seguida nos óptimos “Shleep” (1997) e “Cuckooland” (2003). Neste último, um silêncio de 30’’ divide as duas metades do disco. O envelope gráfico em todas as edições tem sido da responsabilidade de Alfreda Benge. Outras curiosidades: um mini-disco “A Short Break”, quase só instrumental, de 92, com fotografias de uma visita a Portugal (Nazaré, I presume...) na infância. E a colectânea de trivia “Floatsam Jetsam”, de 1994. Mas o que é a música de Robert Wyatt? Algures entre o cabaret, a folk, o progressivo e o jazz, fica este homem, paradigmaticamente "open to suggestions" e assumidamente preguiçoso. Um barbudo da cadeira de rodas e cara risonha que não cessa de nos encantar, com as suas vocalizações agudas, os seus sintetizadores serpenteantes, e as percussões certas. Génios comunistas? Only in the UK!
Não conseguindo maior capacidade de síntese, na página adequada do imsucks estarão as duas colectâneas só para amigos, assembladas directamente do material original. Como sabem, tenho email.
Etiquetas: música
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