quinta-feira, agosto 18, 2005

Da "incapacidade de nos assumirmos como uma região espanhola", ou Da Ignorância Ibérica Generalizada

Define-se como escritor. Chama-se Carlos Vale Ferraz. Também a minha filha de 6 anos, embora ainda com alguma dificuldade o é. E, tendo como pretexto a visita de Zapatero a Londres, na pág. 8 duas colunas do Público de 3ª feira elogia a aposta deste Zapatero na chamada “aliança de civilizações”, opondo este conceito à prática recente por ex, de Tony Blair.
Passando por cima de considerações sobre o futuro da Espanha no contexto europeu das quais nem discordo nem concordo, faço reparos porém a esta enormidade, e cito: “Desde logo porque Blair e Zapatero têm conceitos diferentes de “civilização”, na linha dos conceitos que a Inglaterra e a Espanha praticaram ao longo dos séculos nos seus territórios e nos que colonizaram.”
Como é possível escrever isto ? Só por vingança, e como o espanhol médio, médio-alto e alto ignora em absoluto a nossa história, este baixinho não saberá nem da de Badajoz a metade ! O império – chamemos-lhe assim – espanhol, que nos tratou muito bem durante os 60 anos que cá esteve, implodiu pouco depois de o inglês finalmente aparecer: a Espanha colonial afundou-se no séc. XIX, a Inglaterra colonizadora expandiu-se no séc. XVIII e floresceu em todo o esplendor apenas mesmo séc. XIX. A história da viagem do Cabo ao Cairo é um "romance" no início do séc. XX... Os Espanhóis e os Portugueses acabaram com praticamente toda e qualquer cultura autóctone ameríndia ao sul de El Paso. São dois colonialismos, o espanhol e o inglês que, sobretudo por questões de tempos diferentes não se devem comparar, ou pelo menos não assim. Se os Espanhóis mestiçaram mais... bom, não vamos agora fazer o elogio do latin lover do séc. XVI, pois não ?
Quando se fala de "nos seus territórios” suponho que se quer comparar talvez a Inglaterra... com Leão e Castela, ou também disto não percebemos nada ? Efectivamente nenhum dos dois países, Espanha e Reino Unido, tem uma história de gestão exemplar das suas “periferias”. Agora repare-se numa coisa: Londres (como Paris, Roma, Atenas, Lisboa...) é o que se pode chamar uma capital “natural”, pelas “naturais” qualidades da sua situação geográfica. Madrid não. Madrid foi criada de novo nos séc’s XVI-XVII, pelos Austrias, como centro dessa entidade recém criada pelos Reis Católicos, a Espanha. Antes a corte residia na capital “natural” de Castela, Valladolid.
Zapatero não é herdeiro de nada disto. E por não o ser é que talvez venha a ser um político importante, em Espanha e quiçá na Europa. Meu amigo, não atrapalhe !

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