quarta-feira, agosto 17, 2005

É Vitalis mas não é água...

É verdade sim senhor, não há como voltar a Portugal para apercebermo-nos de como temos o nosso país bem entregue, e que os cronistas dos nossos jornais velam com a sua suma inteligência por esta nossa antiga pátria, vetusta de quase nove séculos.
E tanto assim é que, no “Público” de ontem, avidamente analizado, não um, não dois mas três artigos pimpolhos impressionaram-me a retina. Ao primeiro vamos: Vital Moreira, coimbrão, ex-comunista, professor universitário, constitucionalista. Em três colunas, página 5, duas são sobre a desregulação da construção na costa algarvia. Já percebi onde estás a passar as férias. Mas em jeito de prólogo tem esta pérola: “ E não me refiro às praias de pescadores, esses modelos inultrapassáveis de imundície, onde se acumulam caoticamente restos de embarcações e de redes, pescado apodrecido, caixas de plástico, latas de óleo e bidões de combustível, e tudo o resto”
O que é uma praia de pescadores ? Tomemos o exemplo da Nazaré das mulheres das sete saias: é uma praia de pescadores ? Vejamos a Sesimbra do lisboeta a jantar sexta-à-noite, construida até à água: é uma praia de pescadores ? As praias de pescadores que eu conheço, Furadouro, Torreira, São Jacinto, são praias de-toda-a-gente-que-lá-vai onde há pescadores que pescam (fazem valer a profissão que têm, coitados...), ainda de uma forma semi-artesanal, mas não fazem praia. Não há restos de nada na areia, no geral, antigamente havia uns palheiros nas dunas para guardar os aparelhos, agora haverá um que outro barraco, um armazém logo ali na marginal, latas, bidões, nem por isso. Enfim, não juro... Não andaremos, caro senhor, pelas mesmas praias... Por outro lado temos a coisa do peixe apodrecido. É desagradável, claro. Antigamente, suponho que agora não, a lota era feita na própria praia, bem como muito amanhar de peixe. Isto habitualmente acontecia fora da zona balnear, que estava sinalizada. Os restos de tudo isto, de aspecto e cheiro às vezes não muito agradável mas biodegradável, o mar e as gaivotas resolviam em questão de horas ou dias. Claro que talvez não a tempo do passeio vespertino de um qualquer convidado constitucionalista que por ali apareça de calça arregaçada... como fazia há muitos muitos anos o falecido Dr. Albino dos Reis, deputado à Assembleia Nacional da outra-senhora, natural de Oliveira de Azeméis e veraneante habitual no Furadouro... Por estas e por outras escreve Vital Moreira que “Portugal nunca pode deixar de ser aquilo que continua a ser: um país feio, sujo e desordenado para além de toda a escala admissível na Europa”. Tem toda a razão mas permita-me: já reparou o quanto bem fica no retrato de família... portuguesa ? Olhó passarinho !

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