quarta-feira, junho 29, 2005

A água espanhola, que é também a nossa... ou não.

"Nos acostámos trasvasistas y despertámos medioambientales..."...
2ª, 3ª e 4ª feira desta semana o El País publicou três artigos de fundo sobre o problema da água no país vizinho.
O problema espanhol da água não tem a ver com quanta água gasta Évora e se os contentores dos bombeiros chegam para abastecer Messejana.
Em Espanha o consumo da água é em 80% na agricultura. E preferencialmente nas comunidades de Murcia, Comunidade Valenciana e na Andaluzia Oriental, em mares de regadio e urbanizações de estufas intermináveis. A fruticultura espanhola é a mais forte da Europa e fez a fortuna recente do chamado Arco Mediterrânico (as zonas atrás ditas), atraindo gente e mais gente, imigrantes, migrantes, investidores, etc. Murcia é das cidades espanholas com maior crescimento, e não é pelo turismo. Só que, onde está o Wally, digo, a água ?
O Arco Mediterrânico é altamente deficitário em água, e a gestão espanhola dos seus recursos aquáticos está a atingir níveis críticos, que o presente ano de sequia só veio agravar. É a Espanha o país europeu com mais barragens e represas. O número de poços e furos, metade deles clandestinos, é astronómico. E já há transvase entre rios, nomeadamente entre o Tejo/Tajo e o Segura (justamente o que irriga as terras de Murcia). O transvase do Ebro, empresa megalómana da governação PP foi parada pelo PSOE e pela forte oposição Catalano-Aragonesa.
Perguntarão: mas a água não é um bem de toda a Espanha, e não estamos a quebrar a solidariedade territorial ? Não é a agricultura do Arco Mediterrânico a única com futuro, certo que o trigo, o milho, a beterraba e o arroz, quando a PAC ruir, vão possivelmente desaparecer do horizonte espanhol (como já quase desapareceram do horizonte português...) ? Isto é, a Espanha do norte e da meseta vai querer água para quê ?
Mas... fez-se todo aquele regadio em terras tecnicamente às portas da definição de "deserto", a contar com que água ?
Estamos nós portugueses a perceber como o Alqueva chegou às nossas terras um pouco tarde demais...
Mais uma negociação difícil nos anos vindouros anos para o governo PSOE. Entretanto, Espanha lidera a tecnologia europeia na dessalinização, e vai investir milhões na modernização das condutas (1/3 da água perde-se antes de chegar à rega). A política de transvases parece abandonada, bem como a de mais barragens. E vai-se tentar impedir que se faça mais regadio no sul (difícil...). Claro que há também o problema dos campos de golfe...
A Espanha portanto lida (mais ou menos...) com uma preocupante gestão aquífera, e ainda não sabemos o resultado final...
E nós, invisíveis, deste lado da fronteira.

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