sábado, maio 21, 2005

E então para onde vamos ?

Parara o carro. O CD rodava a uma velocidade muito superior aos LP’s antigos, e era assim com tudo, porque aconteciam as coisas tão depressa, dentro de pouco outro ano, e agora ? “Come as you are...” mas, how, who am I ? Estou bem, obrigado, aquela pneumonia da comunidade curou-se bem, até a palavra comunidade nos pode dar uma sensação de pertença, embora as doze horas de ventilação não invasiva não tivessem sido particularmente agradáveis. “Nirvana”. Seria um inferno, pois o gajo até se matou, terá percebido que não há nirvana, e que a vida se resume a visitas médicas sem cessar, voltas e voltas a uma cidade sem entrar nela – circunvalação todos os dias, casa em Matosinhos – ao perímetro, como se fôssemos os índios, e a lembrança não do sexo, não, mas de mãos, de olhos, de costas que se viram e descobrem um abrigo. Mas as lembranças estão lá dentro e não podes ou não consegues, ou já não te lembras como se entra – Monte dos Burgos e virar ? “And I swear that I don´t have a gun...”
Mas talvez eu consiga só ser eu por um pouco, pensou. Não fixar as amarras de todos estes anos em por quem passaste, mas no que andaste a fazer, corrijo, no que fizeste. E sem a ajuda de efeitos especiais. Ah, bom, eu sempre fui só eu mesmo. Nunca o fio de uma teia de aranha por perdido que estivesse se dedicou a unir-me a ninguém, a nada. Acima, ao lado, por fora. E a seco. Que são de uma força imensa, dizem, esses fiozitos: melhor não mexer com eles, portanto
E depois Caetano canta Kurt Cobain, o qual afinal sempre tinha uma arma, ou terá ido arranjá-la, quando percebeu que o nirvana não era já ali. Visitas e visitas e visitas, sem cessar. Aos médicos. Shhhh... E a voz sexagenária de Caetano acabou na canção, e depois acabou a canção, e o filho Moreno entre os ajudantes à matança. Por falar nisso...
Tarde. Noite. Há duas horas dentro do carro parado, e em frente de casa. Estacionado do outro lado da rua em relação à entrada da garagem, não conseguiria entrar com uma manobra apenas. Seguir em frente e rodear o quarteirão ? Puxar o carro à frente, marcha-atrás para ganhar posição e meter ? Chegar ao cruzamento em frente, inversão e voltar para entrar ? Trinta e cinco minutos depois decidiu-se pela opção b).
”Take your time / Hurry up...”.

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