domingo, dezembro 06, 2009

Ponto Último

Ponto último, pensei eu, acabaria um capítulo num
livro para lá do imaginável, que recomeçasse
em fresca letra de forma, exótica, futuro que
- milagre! - eu pudesse ler. Era-me vaga
a esperança mas mantinha-me, afável e ligeira.
Um sacerdote - esses cómicos que dão
sentido somente aos aterrados -
telefonou-me, e eu adorei-o, abençoado seja.

A minha mulher de há trinta anos está ao telefone.
Ouço o sinal de impedido, e sei como ela sofre
e como necessita de trocar opiniões
com os amigos. Mas eu, eu preciso da voz dela;
o seu corpo é o único lugar onde
a minha desolação choca contra o seu fim.


John Updike, in Ponto Último e outros Poemas, ed. Civilização 2009, trad. A Luisa Amaral