quinta-feira, dezembro 31, 2009

E lá fora?

Um amigo meu, médico, falou-me agora mesmo de uma doente sua, seguida há mais de seis anos por doença complicada, mas até ontem estável. Por discreta complicação fôra internada para estudo segunda-feira pela tarde. Hoje está em cuidados intensivos e com poucas probabilidades de sobrevida útil.


É, as coisas, os acontecimentos, os dados, aquilo que não se compra nem se vende na farmácia, não estão ou não aparecem durante meses ou anos e, subitamente começam a bater à nossa porta como bolas atiradas por uma criança, ouve-se, não se liga, repete-se o som, vai-se abrir, é um batalhão.

O tempo, o tempo, sempre foi uma variável traiçoeira. Começa logo por isso, por ser variável. E não nos pertence a caixa de velocidades que o regula inapelavelmente. Às vezes não nos resta outra alternativa senão ir atrás, ou não. O tempo pode correr mas sempre podemos optar: que ele corra cá dentro, ou lá fora.

A doente deste meu amigo foi tomada por uma vertigem, um arrepio, um buraco no espaço-tempo. O meu amigo disse-me: “eu olhei para ela, mas era como se afinal estivéssemos em realidades paralelas, ela já com uns dias de avanço, outro ano.”.

Pois é. Outro ano. E já vou atrasado. Aprendi-o da pior maneira, possivelmente.

E não sei se abrir ou fechar a porta, se correr ou se sentar-me pacientemente à espera. Diz quem não sabe que “quem não sabe é como quem não vê”. Deve ser por isto que tropeço.

Outra opção ainda é sair, ir lá para fora, e deixar que os elementos, os elementos todos, chuva, vento, sol, humidade, mar e terra, tomem conta de ti e te conduzam através de um qualquer solavanco temporal tido ou por haver.

Sempre foi assim, lá fora é que se está bem.