quinta-feira, abril 03, 2008

Do choro

Um amigo meu não se lembra da última vez que chorou. Costuma dizer: “Antigamente, quando era criança, chorava muito! Depois secou, para nunca mais!” Sei que é assim, pois nas conversas que tenho com este meu amigo ele nunca mente, o que não é uma qualidade em si, é apenas uma constatação, uma evidência. Diz ele também que já repetidas vezes por ali andou o momento, a humidade periconjuntival, o acenar da hiperventilação, o soluço, a adução dos ombros. Só que nesses momentos, ligeiro, eficaz, o vigia encarregado de lhe secar o olhar logo avança e faz o que tem a fazer. “Fecho é muito os olhos” – diz – “e a muitas coisas!”.
Respondo-lhe que não chorar nunca - é um defeito, e dos grandes, e que fechar os olhos tem apenas duas indicações, o sono e o prazer, sendo esta última opcional pois há quem os prefira ter bem abertos quando.

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