segunda-feira, julho 09, 2007

Bach e o Prelúdio em Sol M da 1ª Sonata para Violoncelo







"Ogers have layers, layers!”, dizia Mike Myers, Shrek, ao Eddie Murphy, o burro.
O Prelúdio da 1 ª Suite em Sol M para Violoncelo de J.S.Bach explica melhor que ninguém os fenómenos tectónicos das camadas, destas de que o Shrek falava, em 2’30’’.
E consiste a vida, esta nossa, em coisa aproximada a esses menos de 3’. Em tumulto se vive, e só, que o resto viver não é. Banhada em rugosa melancolia, a corda dos dias puxa-nos cada vez mais para o fim, sem remissão. Não há outro instrumento para transmitir a rugosidade, o tumulto, esta melancolia perene. Um violoncelo não ri porque fala a verdade, e a verdade não está para risadas. A verdade usa a clave de Fá. É outono sempre, e é tarde, e estamos no fim.
Mas há ainda tempo para fechar os olhos nos 2’30’’ do Prelúdio em Sol M na interpretação de Pau Casals, antiga como o tempo, rugosa como se de um resumo se tratasse de uma vida que já se perdeu e sabe. A 1ª Suite para Violoncelo começa portanto com o mais brilhante dos epitáfios. O resto é apenas contar o que foi que aconteceu entretanto.
Fuck the layers!

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