domingo, abril 15, 2007

"Dizem que é uma espécie de Engenheiro..."

Pode ser que o caso Sócrates-Universidade Independente signifique o começo do fim para este Primeiro Ministro. Pode ser.
A licenciatura de José Sócrates (JS) revela, no seu método de aquisição, todo um rocambolesco empilhar de documentos e de certidões até chegar ao canudo final, e espelhará a tal “falha de carácter” de que fala Marques Mendes, e que os portugueses podem não perdoar. Tudo depende, vejamos de quê.
A popularidade de JS é possivelmente mais consentida que sentida: sabemos que ele não é bem o que diríamos uma “boa pessoa” - querida. Sabemos. Mas pôs-nos com 3,9% de déficit. E está a desencalhar-nos o barco; a nau Catrineta. Nós também sabemos que as coisas não andavam bem, e que a culpa era assim como que um pouco nossa. E achamos que isto andava a precisar de um Sócrates, isto é, de um lunático obsessivo e casmurro, convencido mas com algumas luzes, e aparentemente honesto, para endireitar a obra. Isto pensamos nós todos. Ou pensávamos. É uma espécie de popularidade que não é bem popularidade.
Ora bem. A questão é: ainda precisamos do Sócrates, ou já não? Já estará a nau Catrineta desencalhada? E a questão é: se se demonstrar inequivocamente que houve grande desonestidade nesta aquisição de título (até agora o que parece mais óbvio é que houve um misto de favor e de desleixo...), aceitaremos nós manter à cabeça do pelotão um homem que deixámos de respeitar? Que de alguma forma nos enganou? Pensaremos com quê? A carteira, a simpatia, a ideologia, ou aquela sensação epidérmica que sempre nos levou também a nunca gostar do animal de sangue frio que era Durão Barroso, ou a detestar o orfeonismo teatral de Guterres, cujas habilidades histriónicas agora, ainda “piormente” caiem sobre os pobres dos refugiados de todo o mundo...
O artigo de última página do Público de 6ª feira passada escrito por VP Valente era humilhante para o 1º ministro de Portugal em funções. A “falha de carácter” está ali exposta. Ora bem: a questão é também: o Portugal este de 2007 ainda se preocupa com “falhas de carácter”? E, por outro lado, não temos todos um primo que é a mais honesta das pessoas mas que não passou da 4ª classe porque para ele os sólidos eram demasiado confusos para serem decorados? Pensemos um pouco no líder da oposição...

Marques Mendes parece estar a falar sózinho: no PSD o momento é de cólicas e contracções de parto, finalmente o super-Sócrates, qual Aquiles, acabou aparentemente de levar com uma seta sabemos onde, há que arranjar novo líder rápido pois sabemos que o “pequenino” não fica bem nos cartazes. É que pode haver eleições...
Mas, buscando bem, não há no PSD ninguém que se perfile como alternativa credível para o cargo: o chorão de V.N. Gaia? O desaparecido António Borges? O horrível Rio ( topam? Outro primo? Outra 4ª classe?) ? Não me lixem. Aliás nem no PS. Nódoas no PS eis umas quantas: os Antónios, por ex. Costa, por ex. Vitorino. Os Antónios do PS são todos como o famoso António Saleiro – assustadores. Não há um que se aproveite. Nos restantes nomes próprios – Jorge, Armando, Jaime, João-filho-de, nada! Melhor fugir! No PS havia alguma alternativa, mas o caso Casa Pia encarregou-se de...

É este governo o governo menos mau que temos tido em bastantes anos. Com os seus imensos defeitos, não se pode negar este facto. Este governo governa. Portugal tem andado um pouco em roda livre ora à mercê ora a escapar de Bruxelas, desde talvez o 2º governo do Guterres. Este governo aliás tem afã em mostrar serviço. E precipita-se. E erra – bastante, aliás. Todos os governos anteriores erravam sobretudo por omissão.
Tudo dependerá agora da arte de Sócrates em desviar a nossa atenção do pormenor do seu título académico para voltarmos às decisões que realmente interessam. E aí Sócrates pode escolher. Pode emendar a mão na Ota, por ex., ou - em parte - nas Urgências. Pôr na calha certa o Metro do Porto. Ou o Metro da Margem Sul, que ouvi dizer é buraco muito maior, até porque ainda não existe. Pode por ex. reduzir Alberto João definitivamente ao abortamento. Avançar com um estudo sério sobre uma regionalização, por ex. a começar no Norte. Etc., etc. O Interior, o Douro... tantas coisas que aí estão à espera...

Afinal, Sr. José Sócrates, ou Sr, Engenheiro (uma cortesia), todo este imbróglio foi apenas uma nova oportunidade, um empurrão para mostrar o que vale, se afinal serve para ficar “para a história”, mesmo com “falha de carácter” e tudo, ou não... Veja isto como aquele golo do Sporting no Dragão aqui há dias: não é que o campeonato não fique cá em cima, estava era a ser demasiado fácil, não acha?
Então vá, vamos ao que interessa... e vamos lá a ver se temos Gente!

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