domingo, setembro 18, 2005

Daniel Jonas

A colectânea "O Século de Ouro da Poesia Portuguesa" estabeleceu como paradigma a excelência da poesia portuguesa no século XX. Declarada essa excelência, logo apareceram os profetas da desgraça a exprimir solenes dúvidas sobre a descendência e a poesia "nossa" mais recente. Dizia-se por ex: "os setenta pior que os sessenta, os oitenta pior que os setenta, os noventa pior que os oitenta". Esquecendo a blague, no que à poesia dita actual diz respeito parecemos adeptos do futebol a tremer também pela extinção da "geração de ouro". E Daniel Jonas pertence também a este frenesi (como antes Gonçalo M. Tavares, por ex.). Nascido em 1973 e com início de publicação na década passada, lançou agora na Cotovia "Os Fantasmas Inquilinos". Espero não ser sua intenção salvar a pátria. E Nemésio não é. Sometimes it's like - parafraseando arrisco... - "too many words". Concede-nos porém alguns poemas como este:

UMA SAISON NOS INFERNOS

Tudo é breve: um deus,
o plâncton, o ferro.

O meu poema é uma miséria
comparado com o teu nome
no edital.

A voragem dos grandes estúdios,
a saída dos operários da fábrica,
a grande depressão
dos trinta anos:

eu bebo
porque senão beber
não conduzo
este corpo a casa.

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