segunda-feira, maio 14, 2012

É na Terra, Não É na Lua (2011)

O documentário “É na Terra Não É na Lua” tem três horas. É curto. “O Corvo, como será?”. Vamos perguntar a Raul Brandão: “Um penedo e vento na solidão tremenda do Atlântico.” Vozes em off, as duas que nos vão fazer companhia. Pensei: “ah, vozes à Cinema Novo!”. Mas são apenas os nossos rapazes a contar a sua aventura, uma aventura que acaba em filme. Pouco depois a noite e as cagarras, na conversa. Tempo suficiente para nos lembrarmos delas, para as levarmos para casa. E que bem gere os tempos este filme. Bom, os corvinos. Ele há o homem mais velho da ilha, o segundo homem mais velho, há o vigia que “via as baleias no fundo do mar”, há o Joca, a mulher que faz os queijos e que os embala como se fossem bebés. O Óscar. Porque escreveu durante quarenta anos um diário de tudo o que se passava na sua ilha para depois o queimar? Esta gente, percebe-se, é definitiva, é negócio fechado. E a ilha, e o Caldeirão. Em qualquer ilha vulcânica a caldeira é a sua explicação. No Caldeirão há o melhor verde da ilha e as imagens abrandam. Mas logo cortam para uma motorizada que acelera. No Traineiras à noite há tecno e Paulo de Carvalho. E há os estrangeiros a quem esta cápsula especial sediada “na Terra não na Lua” fascina e capta: bailarinos, músicos, ornitólogos. E chove. E há o musgão onde os pés se enterram. E há ondas que submergem um porto de brincar. Em 1924, quando Raul Brandão esteve no Corvo, os corvinos só queriam uma bateria para a sua telegrafia sem fios. Hoje o Presidente da Câmara quer um Pavilhão Multiusos. Inês Inês faz para o Gonçalo um gorro típico do Corvo. No fim ficam o gorro e o filme feitos. Acaba tudo com um mergulho e umas luzes psicadélicas à volta do Gonçalo e o seu gorro, a dançar – no Traineiras? Os corvinos, “os existentes e os eternos”. Gente que na pedra se fez de pedra e mais.