quarta-feira, julho 07, 2010

Tilda Swinton - sessão dupla (with spoilers)

"Io Sono L'Amore"  (2009) e "Broken Flowers" (2005). Em comum nos dois filmes está Tilda Swinton. E quem é Tilda Swinton? É aquela moça muito branca que – acho – é rainha nas Crónicas de Narnia. E já ganhou um óscar de melhor actriz secundária em 2008 por "Michael Clayton".
“Broken Flowers” é Jim Jarmusch vintage. “Io Sono L’Amore” é um êxito comercial e também de crítica – com flutuações – dum novo realizador italiano, Luca Guadagnino. Não há filmes mais opostos. E não falam do mesmo.



“Io Sono L’Amore” trata do amor que é paixão. Que pode sempre voltar a acontecer. Tilda é Emma, uma rapariga russa que se apaixonou, ou mais precisamente foi “capturada” por um jovem milanês filho de uma rica família proprietária de um empório têxtil. Isso aconteceu há muito tempo. A rotina de uma família da alta burguesia milanesa é retratada ao detalhe. Emma é o discreto motor dessa engrenagem. Que se baseia numa maré de serviçais. As cores, os tempos, os ritmos, a música de John Adams parecem ser muito eficazes no desenho desse retrato. Emma tem um filho que é um pouco diferente. O único que fala russo com ela. Que faz amizade com um rapaz cozinheiro que vai ser a nova e infinita paixão de Emma. O resto é flores, e o resto do filme é um lindo ramo de situações várias que levam à ruptura, à emersão, à fuga da mulher apaixonada para o ventre obscuro onde se acolhe, e assim terminamos.

O cinema italiano tem este problema com os seus filmes actuais. Para os críticos de cinema nunca nada do que é produzido se pode remotamente comparar às antigas glórias como Visconti, Fellini, Antonioni. E nem lhe é permitido dialogar, algo que este filme se permite, nomeadamente com Visconti. O crime acontece. Tilda Swinton é superlativa e eis mais um filme sobre a paixão que se vê bem e ao qual se adere finalmente sem hesitação.



“Broken Flowers” é outra música. Começa efectivamente por sê-lo: Mulatu Astakte, o jazzman etíope domina a OST. Porque Bill Murray, americano emocionalmente “paralítico”, tem um vizinho de origem etíope que é o seu oposto: vive feliz, tem três empregos e cinco filhos. Bill Murray? Vê “paraliticamente” terminar a sua enésima relação. O seu sucesso em computadores permite-lhe uma vida de reclusão e auto-depreciação as an explicity defined “aging donjuan”. Até que recebe uma carta sem remetente, possivelmente de uma antiga relação, escrita a tinta vermelha e num envelope rosa, anunciando-lhe a existência de um filho de dezanove anos, que possivelmente o irá procurar. Relação qual? Winston, o vizinho etíope, é amador de romances policiais e decide por Bill Murray um roteiro de procura das cinco namoradas de há 5 anos, uma delas já morta e enterrada num cemitério. E contrariadamente Bill Murray vai à procura. Going on a quest… Cada visita é um episódio de uma soap opera prensada num registo minimal e deliberadamente repetitivo. Oferecer flores, a procura da máquina de escrever que terá escrito a carta. No último encontro, onde aparece uma Tilda Swinton transfigurada, as coisas não correm bem. E Bill Murray volta.

O filme termina com um (des)encontro dele com um rapaz na estrada que ele decide tomar como o seu filho à sua procura – será? Não será? E a dúvida, ou o medo, ou o vazio com que Bill Murray nos deixa no fim do filme, em rotação de 360º, é a resposta clínica aos anos de sucessivas relações e relações e relações, dada sem anestesia. Murray procura um sentido, daí os 360º, e não o encontra, ele não está. E o tal filho que pode ou não aparecer tanto pode fugir espavorido como atacá-lo. E não há razão, não há caminho para seguir. No hay hoja de ruta.

Joder, como diriam nuestros hermanos.


P.S.: retirei isto da Wikipedia: "Swinton lives in Nairn, in the Highland area of Scotland, with Scottish painter John Byrne and their twin children: a son, Xavier, and a daughter, Honor. She travels with her partner Sandro Kopp, a German/New Zealand painter.[19] She has been with Kopp since 2004 and the relationship has Byrne's blessing.[20] In an interview, Swinton commented on her domestic situation: "It’s the way we have been for nearly four years. I’m very fortunate. It takes some extraordinary men to make a situation like that work.""

Joder, como diriam nuestros hermanos. Embora a relação afinal já não tenha (2010) Byrne's blessing, ele 19 anos mais velho, Sandro 20 anos mais novo que Tilda S.