quarta-feira, dezembro 31, 2008

"Náusea, ou é a morte que não chega?"

Entrega-te, coração,
Já lutámos tanto,
Que se suspenda a minha vida,
Não fomos cobardes,
Fizémos todo o possível.
Ó minha alma,
Vais ou ficas,
Decide,
Não me apalpes assim os órgãos,
Às vezes com tanta atenção, outras tão desatentamente,
Vais ou ficas,
Decide.

Já não aguento mais, eu.

Senhores da Morte
Não vos injuriei nem aplaudi.
Tende piedade de mim, viajante de tantas viagens sem bagagem,
E sem amo, e sem riqueza, e sem glória,
Sois decerto poderosos e sois sobretudo surpreendentes,
Tende piedade deste homem aflito que antes de franquear a barreira já vos grita o seu nome,
Agarrai-o depressa,
E então, se ele puder, que se acomode aos vosso feitios e costumes,
E se fôr possível ajudá-lo, peço-vos eu, ajudai-o.




poema de Henri Michaux mudado para português por Herberto Helder
in Doze Nós Numa Corda, Ass&Alvim, 1997

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segunda-feira, dezembro 29, 2008

Flemish Comic


Johann de Moor é o filho de Bob de Moor e autor também reconhecido de BD. Ler a sua muito interessante entrevista ao Público.

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domingo, dezembro 28, 2008

Oh bother! (It rains in my room, still!)

Quando chove na rua, chove no meu quarto, como uma décalage (há quanto tempo não liam uma palavra como esta?) de 1-2 horas, não mais. A chuva pára e um lapso de tempo similar distancia o parar da chuva no exterior da mesma paragem no interior.
Moro num último andar, o problema está portanto no telhado comum, vá de telefonar ao condomínio, uma empresa matosinhense dinâmica e em crescendo. O problema está também porém em que… quem nos atende do outro lado, o homem que coordena os arranjos e as reparações… é gago! Eu até o conheço, parece-me esforçado, bem educado e prestável, quando eu lhe digo que o último “arranjete” que fizeram ao telhadinho de nada serviu ele responde: “Ó pá, a sério? Que cha… gh… … ti… gh… ce!” Percebe-se no amplificar da gaguez que o homem sente realmente o cair das gotas de chuva pelo menos tanto quanto o soalho, os livros, a roupa, os adereços - o que quer que no meu quarto esteja sediado a Sudoeste – que é onde chove. De modos que os meus telefonemas com este senhor terminam quase sempre num pedido de desculpas por o ter perturbado, sendo o medidor da perturbação os silêncios engasguetados que obtenho do outro lado da linha, percebendo eu também porque o gajo que devia subir ao telhado para resolver esta merda de uma santa vez não lhe atende o telefone – é que não há respeito possível perante uma voz de mando que gagueja e pede desculpa, é uma combinação letal!
Portanto, quando via deixar de chover no meu quarto? Abril? Maio? Março?
Resposta: "Ó pá, não gh... ... ... sei!"

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quarta-feira, dezembro 24, 2008

Feliz Natal (Grand Theft Auto IV)

Aqui há uns dias fui a casa de uma amiga cujo filho mais velho fazia anos. Coisa mal pensada pois era dia de trabalhar à noite e os lanches ajantarados terminam sempre em jantar somente, teve o rapaz que soprar as velas antes de tempo porque estávamos de saída e portanto.
No sofá da sala, durante as duas horas que para ali estive sem dar cavaco a gente que na realidade não conhecia, um rapaz dos seus doze anos matou entre dez a quinze transeuntes de ambos os sexos, estourou vários carros e um helicóptero, andou à pancada e aos tiros com praticamente todas as pessoas com que se cruzava na rua, e isto com a particularidade do personagem por ele representado no jogo de vídeo, pois de um jogo de vídeo se tratava, aparentemente não morrer nunca. O jogo chama-se Grand Theft Auto IV e obviamente desejo a todos os leitores deste texto um grande e santo Natal. Cuidadinho com as prendas para os meninos, hã?

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Miguel Vitor e a sua mão.

«Se fosse num jogo do FC Porto, o golo teria sido validado» disse Carlos Móia, benfiquista adjunto. Hoje não sei. Tenho um pressentimento que se fosse num jogo do Sporting também teria sido anulado. E não posso deixar de saudar os tomates do árbitro em questão. Lembro que houve mudança da trajectória da bola, lembro. Portanto, meus senhores... não sei. Uma saudação de qualquer forma para o Miguel Vitor, puto das escolas do Benfica e que tem uma cara digna de apreço: reparem bem no miúdo quando o virem jogar, ora reparem1 É que não encontrei na net uma foto que lhe fizesse justiça!

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quinta-feira, dezembro 18, 2008

O Partido Popular

José Sócrates definiu o seu partido como “popular” e de “esquerda moderada”. Gostaria de demorar-me um pouco sobre o primeiro termo. Populares eram as repúblicas do outro lado da Cortina de Ferro, a Roménia, a Bulgária, etc. Popular é ainda, julgo, Angola, condomínio fechado de José Eduardo, son ami/leur ami, cuja filha coincide ter agora comprado parte do BPI, ou parecido, para o “nacionalizado” BCP fazer uns trocos. Se a popularidade que se quer é esta, vou ali e venho já. O qualificativo pretende ser outro e explicitamente subliminar: “popular” no sentido de que “ganha eleições”, “assegura a papinha a muita gente”, “continuamos todos em cima da carne seca”, etc. O sufixo “esquerda moderada” serve só para acalmar os pamonhas. Quando Carvalho da Silva diz que Sócrates acha os sindicatos “coisa do passado” peca por defeito de apreciação.
Toda a política certa acaba por ser popular, os povos e a história acabam por coincidir nas apreciações ao fim de algum tempo: os bons políticos acabam sempre por ser populares, porque julgados no tribunal da história passaram à fase seguinte, do H maiúsculo. Aqui não é bem o caso.

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Morreste-me.

Morreste-me! Não consigo deixar de pensar isto, por feia que soe a coisa. A verdade é que uma coisa assim não se faz, e vou-te explicar.
Lembro-me de ti não do Porto mas curiosamente da recruta na Coina, de umas poucas de noites em Lisboa. Eras fino e dúctil e silencioso, de piada esquisita. Chamavas-me por nomes que era como se fôssemos da família, diminutivos como de irmão mais velho, embora por meses o mais velho fôsse eu. Estavas já feito e decidido, fumavas imenso, cultivavas o teu J&B com parcimónia, nada mais sabia de ti. Podias ser um oculto praticante de artes marciais, ou comer bolas de ópio nas horas vagas, ou ainda salvar vidas com uma máscara nocturna e ser herói de banda desenhada - o “Dark Blade” - como referência à tua proverbial magreza. Não sabia se namoravas, sequer o que pensavas disso, por mim era como se as esfaqueasses ao fim de quinze dias. Mas porém, na Ribeira das Naus quando nos despedimos os dois da Marinha tinhas alguém à tua espera que (não) me apresentaste, senti-me então muito honrado. Só agora soube que afinal casaste, que enfim tiveste filhos.
E nestes anos todos assim continuaste, assim continuámos, paralelamente seguindo em silent mode, assumo que gostarias de jogar alguns jogos de vídeo com os teus rapazes, algo que terminasse em “…Avenger!”, por aí, ganhando no final com uma stickada discreta, um golpe de mão que depois acabavas por ensinar, “é assim que se faz”.
Estive contigo há uma semana. Reconheceste-me logo, pareceste contente. Pedi-te desculpa por te acordar – um pouco. Estavas, não estavas. Falei-te dos tempos passados, do teu irmão dentista que contava semáforos vermelhos na noite de Lisboa com um Impreza de dois litros, então era alguma coisa, caramba! Tu contaste-me a tua história recente, a negação, o medo, o medo. E, sabes, custou-me a aceitar o medo que referiste. Não vou explicar porquê. Estavas, não estavas, subitamente começaste a falar de línguas estrangeiras e que já não terias tempo para as aprender, o grego, por exemplo, e outras, não estavas. Morreste quatro dias depois. Antes das línguas estrangeiras disseste-me alguma coisa sobre que “não querias parar de trabalhar”, pois, e agora quem opera as varizes reticulares da minha santa mulher, hã, estúpido, quem? Meu cabrão de merda!
Sabes, no dia a seguir à tua morte, pelas fodidas razões profissionais do costume falei com vários amigos comuns e a verdade é que falávamos mais baixo, mais cal-ma-men-te, como se sabendo que nada daquilo era realmente importante. Que se fodam as varizes, não devias era ter morrido!

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quinta-feira, dezembro 11, 2008

O padre Inácio e outras coincidências

O meu pai parece-se bastante com o José Saramago. Diz porém quem me quer que o meu pai é bem mais simpático. Acontece-lhe rever no meu pai coisas que em mim lhe agradam. Mais a discrição, a modéstia, o silencioso empenho que sempre se admira em alguém e mais num velho. A obra do meu pai, pelo menos aquela que eu lhe conheço, aproxima-se da de José Saramago em qualidade mas parece-me ser bem mais original. Pela discrição, pela modéstia, pelo silencioso empenho que agora também eu lhe reconheço e que afinal sempre lá esteve. Escuso de esclarecer que uso a palavra obra num sentido bastante amplo: o que foi feito.
Curiosamente e há bem pouco tempo fui encontrar outro estranho parentesco entre o meu pai e um escritor, este já falecido. Estou-me a referir a Luis Pacheco. Num dos meus almoços “de trabalho” num centro comercial de alguns conhecido senti-me obrigado a adquirir alguma coisa para ler enquanto – é-me difícil almoçar sózinho sem leitura ocupativa. Comprei em mini-feira do livro que ali estava um volume de entrevistas do editor e escritor Luis Pacheco. As entrevistas, sujeitas que são à curiosidade mórbida que este personagem atraiu e atrai, acabam por se repetir um pouco. Há ali história e histórias, ambas boas. Que escrevia bem o senhor também eu sei, que já o li. Porque publicou pouco torna-se mais óbvio. Ora o que o traz para aqui é a utilização da expressão exclamativa “os-colhões-do-padre-Inácio”, já não sei a propósito de que. Assim também se exprimia o meu pai em momento de mais verbo, preso e encoleirado por um emprego filho-da-puta, ele então, como sabeis - eu, nem pensar. Mais selecto porém, curso técnico da Escola Industrial, o meu pai dizia “tomates”... Por outro lado, à pergunta balanço-de-uma-vida respondeu Pacheco que “foi como foi”, entre uns impropérios. Lembro-me bem de um dia ter invectivado o meu pai por alguma questão pretérita constitutiva sobre casa, família, tidos e acontecidos – a que ele respondeu: “olha, foi como foi!” Nestas duas vidas, a do meu pai e a do Luiz Pacheco, pouco menos que opostas mas ambas feitas por gente crescida e de barba rija, obrigada a "ser" e portanto sendo muita coisa, apenas posso sublinhar estes muito discretos paralelismos. Sendo eu o paralelismo outro que resta.
Resto eu, é isso.

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Porto 2 Arsenal 0


Virá um tempo em que estes tempos serão definidos como os tempos em que o Lucho Gonzalez jogava no Porto.
Uma coisa é que Wenger não queria ganhar o jogo, não precisava. Outra coisa é o Arsenal ter parecido o Sporting... nos seus (frequentes) dias menos bons.
Não foi uma vingança? Claro que não ...

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