quinta-feira, abril 27, 2006

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Não há equipas invencíveis...

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4 euros


Recentemente, no último dia de férias, parei em Tomar para um café.
É aquela cidade que sempre merece uma visita. Atingida pela aranha Polis, também também um novo parque, uns novos arranjos, e novo estacionamento subterrâneo que ninguém usa.
O café foi tomado no Paraíso, café semi-antigo com um povo muito interessante. Na praça central, onde a frontaria da igreja de S.João Baptista já está bem à vista, pousado estava um comboiozinho dito "turístico" bem à nossa espera. E feito, e lá fomos. 4 euros (adultos 2-criança 1) para uma volta num circuito que depois aprendi chamava-se "cidade nova". O simpático condutor anunciou assim a volta "Ora muito boa tarde minhas senhoras e meus senhores, vamos sair agora da Praça da..., vamos ver vários pontos de interesse da parte nova da cidade, e no fim voltamos à Praça da..." Marosca... E que pontos de interesse? O Hospital, o Politécnico, uns bairros novos, um Minipreço, um Lidl, um Intermarché... e isto em meia-hora. Tantas coisas que estavam por conhecer em Tomar!
Entretanto o Convento de Cristo fechado por greve. Boa!
Tomar, terra portuguesa... das mais ...

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terça-feira, abril 25, 2006

Adição


Vou começar a linkar blogs giros de que goste, até para propiciar derivações a partir desta pobre casa. O 1º vai ser um onde escreve o poeta Helder Moura Pereira, n. 1949 em Setúbal, e pessoa da minha particular veneração, um dia explicarei porquê.

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Portugueses


Há vários filmes portugueses que, se eu tivesse tempo, queria ver. Há filmes de muitas nacionalidades que, etc...
Um deles é "Alice", filme julgo que do ano passado, baseado na história real de uma menina que desaparece sem mais, um dia, julgo que num supermercado. E a reacção dos pais, sobretudo do pai. Desconheço o nome do realizador. Parece que foi bem criticado em Cannes e ganhou o festival Mar del Plata. Mais: banda sonora de Bernardo Sassetti, consta que excepcional.

E dois documentários. O 1º chama-se "Lisboetas" e é dum tal de Sérgio Treffaut. Passou no IndieLisboa em 2004. E vem a público agora. De que fala? Dos lisboetas que começaram por não ser lisboetas. Nem portugueses. Mas agora são.


O outro é do fotógrafo Daniel Blaufuks e chama-se "Ligeiramente mais pequeno do que o Indiana" (o título fica mais giro em inglês). E é um road movie. Ou uma viagem num velho Mercedes pelas desgraças visuais de um país em ressaca pós-Euro2004 e peri-Santana. Passa no IndieLisboa deste ano.

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Fight for your mind 1995 Ben Harper



Este 2º album a sério de Ben Harper era a resposta enraivecida ao título do ano anterior, "Welcome to the cruel world". Nascido em 1969 quase que com uma slide acoustic guitar entre os dedos, consta ser aqui, nestes 60' onde melhor se percebe o que Ben Harper sabe fazer com a mesma.

Dylan, Hendrix, Marley: eis a santíssima trindade. Canções cheias de intenção, de garra, letras protestantes, e uma guitarra superlativa. A não perder.

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segunda-feira, abril 24, 2006

Lunatico 2006 Gotan Project


Em 2001 La Revancha del Tango dos Gotan Project foi talvez o último grande disco de um rosário de pérolas iniciado mais de dez anos antes, grandes discos do estilo que depois se veio a chamar, indistintamente, Intelligent Dance Music. Isso mesmo, por muito bandoneon que houvesse a passear no conjunto, o disco era IDM do princípio ao fim, tendo como objectivo o groove, como origem o dub, e como fim último to be the coolest sound of them all. E o tango foi efectivamente uma boa aposta. Embora não a única: a fantástica versão de Gato Barbieri era manteiga, ritmo e piano, por ex.
2006, IDM is dead. E agora? Ficava o tango. E ficou. Por fim os Gotan Project viajaram até Buenos Aires, arriscaram a composição de tangos quase clássicos, etc. Mas, a dança? Aqui e ali algum nervo, num tema um semi-dancehall, noutro hiphop argentino fresquito, o disco vai-se safando razoavelmente bem até aos 2/3, onde um certo cansaço e repetição fornece um certo facilitismo. Para cinco anos, ficamos com bom material para um mini-LP e um grupo sem saber para onde ir. Como este disco vai ser o da consagração e vai ser vendido às grosas, tipo 2º dos Portishead ou o 2º da Thievery Corporation, o resto é bom de prever...
Ainda assim, é de ouvir, claro, como foi os 2ºs dos acima pronunciados e defuntos...

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sexta-feira, abril 21, 2006

Leituras

No Leituras do Médico linhas sobre The Pickup, de Nadine Gordimer

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Oh!

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Universo ao meu redor 2006 Marisa Monte



Esta coisa do samba na carreira de Marisa Monte nasce de que o seu pai pertenceu à escola de samba da Portela, e assim MM cresceu dentro do samba, este som carioca sobre todos. Só no disco de estreia não houve samba, em todos os outros sim. MM produziu em 1999 um disco da "Velha Guarda da Portela", de especial sabor. Portanto, este disco não é uma surpresa. Metade dos temas são novos, alguns desenhados com a ajuda C Brown/A Antunes (original que não no disco, onde também não estão). Há também um samba da Calcanhotto, e outro do Paulinho da Viola, e uma curiosidade com David Byrne.

Com pai sambista, talvez o respeito impeça este disco de voar mais alto. Todos os temas são apostas seguras, e nisso este disco é mais homogéneo do que Infinito Particular. Infelizmente, os temas onde a produção de Mário Caldato subverte a base original não são muitos, e metade do disco é homenagem suave e perfeita a um som lindíssimo, mas não novo. Sim, são mais canções fantásticas, uma meia dúzia, o tema Calcanhotto deste lado é melhor que o cedido para o IP... mas teria sido necessário menos respeito pelo samba, para fazer história. O melhor mesmo é pegar num CD e misturar os dois. Com "O Bonde do Dom" a abrir...

MM assegura outra vez o 1º lugar, mas esperávamos "Mais"!

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Infinito Particular 2006 Marisa Monte


Molte anni fa, na cidade de'A Coruña, assisti a um concerto desta menina, digressão a suceder ao Barulhinho Bom. Marisa Monte é alta, magra, não muito bonita, e mexe muito. Não é Ivette Sangalo nem precisa, o samba está lá como em todas as brasileiras, mas não espanta. E canta com as mãos. Puxa a assistência para as canções. Ou puxava - este espectáculo foi há 7-8 anos.
Discografia esparsa, e com frequência muito boa. E agora? Infinito Particular vem - não se pode esquecer - depois do sucesso enorme dos Tribalistas. E muitas canções são da autoria do trio maravilha. Porém, suponho que por vontade própria, nem C Brown nem A Antunes tocam sequer um instrumento que seja, ou completam vozes.
Disco que não chega a 40', tem porém canções que chegue. É raro o tema que ultrapasse os 3'. Letras muitas lindíssimas - sobretudo as saídas do trio mencionado. Disco discreto, calmo, melancólico. E aqui chegamos ao busílis da questão: Estes 40' soam um pouco todos da mesma forma. Primeiro, a produção não é Carlinhos Brown. É boa, mas não superlativa. E assim, esta dúzia de canções, todas boas e algumas excelentes, para serem defendidas todas por igual - ou por diferente, uma a uma, precisavam de mais génio sonoro, o que não equivale obrigatoriamente a mais som... O que leva ao paradoxo de se pensar que se a selecção das canções tivesse sido mais estrita, estaríamos mais contentes...
Por outro lado, a costela pop - e é isto que Marisa Monte é, uma cantora pop brasileira, a pessoa cujo ecletismo na actualidade mais se aproxima do papa Caetano, não tem aqui o gás de alguns temas mais mexidos, mais quentes que MM já nos ofereceu antes.
Lembro-me de uma entrevista em que MM assumia o facto de o que ela quisesse gravar gravava, sem entraves nem mais considerações. Toda a entronização leva ao vício. The quest for excellence needs a bit of a fight.
Claro que meia dúzia destas canções são para sempre, claro que está bem comprado. Mas...

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a propos

"Questo perchè l’eresia, che vuol dire ricordiamocelo "prendere posizione", è la cosa che più si avvicina alla natura dell’essere umano. "

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quinta-feira, abril 20, 2006

Miguel Sousa Tavares e o Cerco

Enviaram-me um texto do MST, publicado no Expresso, que por tratar de várias coisas e ter muitos ângulos por onde se dissecar, assim vai ser dissecado.
MST defende neste texto o seu direito ao vício. E eu, menos viciado do que ele, parece, em algum espírito do que diz concordo. é verdade que caminhamos para um não sei quê de mais policial e abusivo do que antes. Mas e porém...
Como grande parte dos polemistas, MST mistura alhos com bugalhos para levar a sua avante: e assim, ser heterossexual, fumador e caçador, é mais ou menos a mesma coisa...
Vejamos: sobre a adopção de crianças por um casal homossexual, MST defende a primazia dos direitos da criança. Claro, mas isto fecha a discussão?
Fumar num espaço fechado com não fumadores não é o exercer de um direito mas sim contribuir directamente para a produção de doença em quem a doença não quer, por isso não fuma, certo? Quem fuma à porta de um bar não é um cão tinhoso, é uma pessoa a disfrutar de um vício só seu... "Fascistas da saúde"? Por amor de...
A caça não é um desporto, e hoje em dia muito menos nobre. É verdade que javalis, veados e outras coisa só existem porque são caçados em muitas dessas coutadas ditas herdades de caça turística. Isto não é obrigatório: o javali, o gamo, o veado, foram animais autóctones das nossas florestas. A sua beleza não nasce de serem caçáveis. Numa herdade sobrepovoada com estes animais, onde a pica e a dificuldade em matar? Os coelhos, as lebres e as perdizes sem caça também já não existiriam? Perguntem-lhes a opinião... Uma caça às perdizes é um imperdível, excepto para as pobres das perdizes... Os caçadores não são más pessoas, claro, e sociologicamente a caça não é algo que se possa extinguir hoje. Até pelo seu valor económico. Agora não lhe chamem actividade amiga do ambiente, ecológica, defensora dos campos e das florestas... pois uma floresta, ou uma campina não foi feita para o som de tiros. Ah, e não me venham com o sofrimento dos animais dos matadouros: um mal não justifica dois.
O mesmo raciocínio se aplicaria à pesca, embora filogeneticamente a nossa distância em relação ao peixe amorteça um pouco a repulsa. Por outro lado a pesca tem um perfil hormonal um pouco mais brando, menos androgénico... não curto, e pronto. Claro que a luta de morte com o peixe nunca termina com "pescador assassinado cruelmente por taínha"... ou "robalo deixa aficionado nos cuidados intensivos"...
De lado (que é menos pecado) falámos contra as quotas para as mulheres na política - tema sobre o qual não curso opinião, e contra a "reintegração" das "minorias", e aí vão quatro, muito iguais umas às outras: ciganos, drogados, artistas e os desempregados profissionais.
Ciganos: analizar a questão cigana em duas linhas é um insulto. E dizer isto para mim chega.
Drogados: podia repetir o parágrafo mas não. O drogado é uma pessoa doente. Claro que um potencial delinquente, e frequentemente um praticante. E é refractário à sua própria cura. Tudo isto tem inerente um juízo de culpa com dois lados: o primeiro é "eu não tenho culpa que ele seja assim"; o segundo é "ele também não tem culpa de estar assim". De notar a diferença entre ser e estar. Idem nos ciganos: eu tenho prazer em que os ciganos o sejam: dentro dos mesmo quadro de direitos, liberdades e garantias. Deles (e delas), e meus.
Os artistas: pois, o MST é um artista que vende... os artistas ou são bons ou não são bons. Nem sempre vendem muito. Com frequência não. Cabe à sociedade saber se precisa dos bons artistas que não vendem para alguma coisa. Quem decide se eles são bons? Difícil questão, há séculos que a procuramos resolver: uns entendidos, a SEC, o EPC, sei lá... o MST é que espero que não...
Os desempregados profissionais: aqui a coisa entortou mesmo. Portugal tem uma percentagem elevada de desemprego prolongado por falta de qualificação dos interessados para fazer outras coisas. Isto é uma realidade sociológica indesmentível. Chama-se a isto desemprego estrutural, não profissional. Uma linha também não chega para falar disto. Nós sabemos do que se está a falar. Mas cuidado...
Vou passar ao lado as touradas, espectáculo de uma inegável beleza, mas crudelíssimo para o touro, bicho que foi "inventado" apenas para a mesma tourada é certo, mas que por ele se contentava com ir cobrindo umas vacas de vez em quando... E não esqueçamos que a tourada à portuguesa é diversão de cavaleiros nobres onde no fim a pega de uns bravos recolhe o touro a entre tábuas para o esquartejo, tourada de risco e muito mais sangrenta a espanhola sim, e de raiz estritamente popular, mas onde por exemplo podemos citar a arte do picador, momento de rara beleza, não?
Depois falamos dos "cartoons", e aqui eu já falei também, e felizmente a coisa até já passou um pouco: a sociedade Árabe Saudita é tão má como a pinta (é pior ainda...), a Dinamarquesa é todo o bom descrito, vota a 15-20% num partido fascista...

Bendita a Sophia mãe que deu este fruto? Não. Bendita a mãe e só. É que ser agnóstico e ateu não é a mesma coisa, já agora.

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quarta-feira, abril 19, 2006

R.G.

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Links

Dois sobre os temas mais díspares: uma visão interessante sobre do que realmente se fala no filme Brokeback Mountain, e o que esperar do doido do presidente do Irão, ambos com origem na revista americana New Republic.

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Stampede 2003 Quantic Soul Orchestra



Will Holland é um inglês muito inquieto que tem produzido boa música ao quilómetro e sob vários nomes. Este aqui é a - nele - habitual mistura de América, Jamaica e África, em apelo directo ao corpinho. Um gosto.

Para esclarecer, foi um "stampede" que matou o pai do Reizinho Leão, lembram-se? Perante a já então crise da Dance Music, 2003, Will Holland respondia indo às fontes, e com alegria!

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The campfire headphase 2005 Boards of Canada


São escoceses, é o 3º disco de longa duração e houve-se melancolicamente muito bem. 2/3 electrónica, 1/3 de acústica tratada. Não é demasiado novo este som (eg. Blue States) mas às vezes acontece ser muito bom.
Consta - sim, consta que o 1º disco, esse sim era uma masterp...

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O Chifrudo

Era Domingo de Páscoa, e a oferta gastronómica em Castelo Branco não devia ser grande. Em viagem tínhamos parado ali, naquele largo dedicado ao estacionamento e onde se anunciava em restaurante com um nome prometedor: “Jardim do Paço”. Pouco antes ficava o celebrado Paço Episcopal e seu jardim, bem como um tal de Parque da Cidade, optimizado pelo projecto Polis, essa epidemia.
E porque a primeira frase? O restaurante tinha duas (pequenas) salas para sentar e comer, assim chãmente dito: na de “dentro” dois numerosos grupos faziam o pleno. Na de fora, supomos que café e snack bar nas horas vagas, mesas formicadas e debruadas a toalha de papel esperavam pelos clientes. A ocupação desta sala, a de acolhimento, era de uns 50%.
Sentámo-nos. A carta veio acompanhar-nos em quinze minutos, vinte para se fazer o pedido.
Pouco depois para as minhas traseiras entrou um grupo de brasileiras – eram quatro – apascentadas por um homem, português este. Era a saída da Páscoa delas. Supomos que foi por isto que Ele se submeteu à tortura da cruz, etc., etc. Não vejo aliás outra razão, confesso. A não haver Páscoa, estas meninas não teriam saído da casa onde cá viviam, municiada com gradeamento preventivo e nada mais do que camas onde trabalhar.
Vi-as pouco, a elas. E não digo isto por retoque de comportamento mas sim porque estavam costas com costas comigo, o que dificultava a rotação, por discreta que esta fosse. Ouvi-as bastante. Umas falavam, outras não. A da extrema quem me acompanhava comentou: “Tem a cara mais triste!”. Tratava-se de uma mulata de cabelo esticado e a tender ao louro, olhos finos meio achinesados. Nem uma palavra disse, seria aquisição recente para o redil.
O espécimen português fazia às vezes sobrepor a sua voz, explicando as coisas, moderando a conferência, reforçando os pedidos para a mesa. Pode ter sido sugestão minha, mas das poucas frases que lhe captei uma foi: “Quem trabalha comigo dá-se bem.” De que falavam? Banais coisas, comida sobretudo, da nossa e da brasileira, ali estavam para comer, de que mais poderiam falar?
Não é frequente partilhar nem que por uma hora o mesmo tecto com uma pessoa que convictamente pensamos que devia estar na prisão e da qual temos a certeza que está armada e sabe usar a arma e não para caçar coelhos. Atrás de mim seguramente disfarçado de boa pessoa estava uma encarnação do Mal, pessoa escura e cornuda, assessorada pelo conveniente mau hálito e o cheiro a enxofre. Por isso quando terminámos – robalo bem grelhado, bifinhos de vitela trespassáveis – levantei-me e fui pagar ao balcão de forma a permitir-me no retorno à base uma boa visão do Diabo. Assim fiz. E, uma vez mais, e por defeito de visão periférica e encadeamento com o protagonista em questão, delas pouco fixei, só que eram todas negras ou mulatas, dos clientes portugas já eu conhecia o racismo apenas residual. E o homem…
E o homem de tão normal provocava pasmo. Podia ser um daqueles amigos de circunstância, corresponsável da administração de um condomínio, por ex. E... estava nervoso. É verdade. Satanás, o Chifrudo, óculos ligeiramente graduados e calva de meio corpo, gaguejava agora, subiam-lhe repetidamente as sobrancelhas, e repetia-se. “Quem trabalha comigo...”
Esperavam-nos mais adiante catorze quilómetros de desespero na A23 a partir de Torres Novas até à entrada na A1. Verdadeiramente diabólico!

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segunda-feira, abril 17, 2006

V...

Hei-de tomar em paz o meu café.

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sexta-feira, abril 07, 2006

Bom...

Férias. Volto a 17.4.

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MM - Infinito Particular

Ainda não percebi se os dois discos que Marisa Monte lançou agora simultaneamente são mais do mesmo ou representam um avanço em relação à qualidade já habitual.
Obras-primas esta mulher já teve duas: "Mais" e o lado em estúdio de "Barulhinho Bom".
O que continua excelente é a qualidade das letras, onde suponho a pena mais importante ser a de Arnaldo Antunes:


Infinito Particular

by Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Carlinhos Brown

Eis o melhor e o pior de mim

O meu termômetro, o meu quilate
Vem cara, me retrate

Não é impossível
Eu não sou difícil de ler

Faça sua parte

Eu sou daqui e não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou porta-bandeira de mim

Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular

Em alguns instantes

Sou pequenina e também gigante
Vem cara, se declara

O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder

Olha minha cara

É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo

A água é potável
Daqui você pode beber

Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular

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quinta-feira, abril 06, 2006

O sítio exacto onde sou

EM CRETA, COM O MINOTAURO

I

Nascido em Portugal, de pais portugueses,
e pai de brasileiros no Brasil,
serei talvez norte-americano quando lá estiver.
Coleccionarei nacionalidades como camisas se despem,
se usam e se deitam fora, com todo o respeito
necessário à roupa que se veste e que prestou serviço.
Eu sou eu mesmo a minha pátria. A pátria
de que escrevo é a língua em que por acaso de gerações
nasci. E a do que faço e de que vivo é esta
raiva que tenho de pouca humanidade neste mundo
quando não acredito em outro, e só outro quereria que
este mesmo fosse. Mas, se um dia me esquecer de tudo,
espero envelhecer
tomando café em Creta
com o Minotauro,
sob o olhar de deuses sem vergonha.

II

O Minotauro compreender-me-á.
Tem cornos, como os sábios e os inimigos da vida.
É metade boi e metade homem, como todos os homens.
Violava e devorava virgens, como todas as bestas.
Filho de Pasifaë, foi irmão de um verso de Racine,
que Valéry, o cretino, achava um dos mais belos da "langue".
Irmão também de Ariadne, embrulharam-no num novelo de que se lixou.
Teseu, o herói, e, como todos os gregos heróicos, um filho da puta,
riu-lhe no focinho respeitável.
O Minotauro compreender-me-á, tomará café comigo, enquanto
o sol serenamente desce sobre o mar, e as sombras,
cheias de ninfas e de efebos desempregados,
se cerrarão dulcíssimas nas chávenas,
como o açúcar que mexeremos com o dedo sujo
de investigar as origens da vida.

III

É aí que eu quero reencontrar-me de ter deixado
a vida pelo mundo em pedaços repartida, como dizia
aquele pobre diabo que o Minotauro não leu, porque,
como toda a gente, não sabe português.
Também eu não sei grego, segundo as mais seguras informações.
Conversaremos em volapuque, já
que nenhum de nós o sabe. O Minotauro
não falava grego, não era grego, viveu antes da Grécia,
de toda esta merda douta que nos cobre há séculos,
cagada pelos nossos escravos, ou por nós quando somos
os escravos de outros. Ao café,
diremos um ao outro as nossas mágoas.

IV

Com pátrias nos compram e nos vendem, à falta
de pátrias que se vendam suficientemente caras para haver vergonha
de não pertencer a elas. Nem eu, nem o Minotauro,
teremos nenhuma pátria. Apenas o café,
aromático e bem forte, não da Arábia ou do Brasil,
da Fedecam, ou de Angola, ou parte alguma. Mas café
contudo e que eu, com filial ternura,
verei escorrer-lhe do queixo de boi
até aos joelhos de homem que não sabe
de quem herdou, se do pai, se da mãe,
os cornos retorcidos que lhe ornam a
nobre fronte anterior a Atenas, e, quem sabe,
à Palestina, e outros lugares turísticos,
imensamente patrióticos.

V

Em Creta, com o Minotauro,
sem versos e sem vida,
sem pátrias e sem espírito,
sem nada, nem ninguém,
que não o dedo sujo,
hei-de tomar em paz o meu café.



Jorge de Sena





PS.: aqui há uns anos pensei mandar umas dezenas de emails e assim de alguma forma "explicar-me". E o email seria este poema. Para quê? Onde o difícil? A minha sede é de água cristalina, e a minha fome... negra! (Eh, eh, eh...)

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MRC (volta sempre)

para a Mª do Rosário Couto


E TRÊS


Os braços
As mãos
Eu cortaria
E ao serviço feito
Não daria preço
Finalmente leve
Quem me vê não mede
O quanto me
Peso.

Caminhando em água
Ouço não ouço
O que dizem
É um rio não é bem
O mar prometido.
E vejo-me a contas
Com este nome
Multiplicado sempre

A ser diminuido.

Mas nada me
Acalma como
este amor
pela minúcia.

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quarta-feira, abril 05, 2006

Ratzinger político do século XXI


O papa Bento XVI recebeu Berlusconi alguns dias apenas antes das eleições parlamentares italianas, onde este arrisca-se a perder o ugar de Premier.
Vivemos novos tempos de interferência da igreja na área pública...

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domingo, abril 02, 2006

Bring Me The Head of Alfredo Garcia, 1974, Sam Peckimpah


Warren Oates faz de Benny neste único filme de Peckimpah em que assumidamente tudo está como ele queria que estivesse. Passa-se num México não antigo e/mas é um western-look-a-like, Benny o anti-herói do costume e o resto tiros, sangue, morte, violência, isto é, poesia pura a la Peckimpah.
O título não é metafórico, a cabeça existe e ganha protagonismo ao longo do filme. Valerá um milhão de dólares. E Benny torna-se amigo dela.
Em tempos de violência extrema, ver este filme é um (gin) tónico.
Acalma.

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Mário(s)

RIFÃO QUOTIDIANO
Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha
uma nêspera
e zás
comeu-a


é o que
acontece
às nêsperas
que ficam
deitadas
caladas
a esperar
o que acontece


Mário-Henrique Leiria in Contos do Gin Tónico, lido (muitas vezes) pelo Mário Viegas

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1de Abril - 1996

"Mário Viegas na memória da mãe.
No próximo domingo, dia 1 de Abril, completam-se cinco anos sobre a morte do ilustre escalabitano Mário Viegas, considerado por muitos o melhor actor da sua geração. A sua mãe abriu-nos as portas da sua casa em Santarém para uma visita guiada à memória do filho ilustre. "1 de Abril de 1996. Mário Viegas morreu. Era um cómico que levava dentro de si uma tragédia. Não me refiro à implacável doença que o matou, mas a um sentimento dramático da existência que só os distraídos e superficiais não eram capazes de perceber, embora ele o deixasse subir à tona da expressão às vezes angustiada do olhar e ao ricto sempre sardónico e amargo da boca. Fazia rir, mas não ria. Pouca gente em Portugal tem valido tanto."José Saramago(in Cadernos de Lanzarote)
Nas suas primeiras férias de Natal, após ter ingressado no Colégio Internato Pio XII, em Lisboa, e ter passado o primeiro semestre longe de casa, Mário Viegas anunciou aos pais: "Matriculei-me no Conservatório". Em meados dos anos 60, num país em plena guerra colonial e governado por uma ditadura já bolorenta, uma declaração destas poderia parecer bombástica. Não foi o caso. António Mário Lopes Pereira Viegas, que na altura era ainda o António, filho varão de uma linhagem de farmacêuticos do lado paterno, não ouviu nenhuma reprimenda. O pai disse-lhe que esta era uma decisão dele. A mãe exclamou: "Eu ficaria admirada se não tivesses tomado esta decisão".O teatro era o caminho mais que natural para quem, no seu diário, aos treze anos de idade, escrevia que o seu sonho era ser actor. Naquela noite de Natal, António ainda ouviu da mãe: "Que faças o melhor". As palavras revelaram-se quase proféticas. Raul Solnado - o único que poderia ocupar, na história do teatro português contemporâneo, o lugar do filho de Francisco e Mariana Viegas - sempre disse: "Ele é o melhor actor da nossa geração".Espírita por convicção, apesar da educação católica, Mário Viegas sempre acreditou nos desígnios da sua família. No seu livro auto-photo-biográfico, com apenas duzentos exemplares editados, conta a história da sua família, tanto do lado do pai como da mãe. Mário Viegas, que morreu há cinco anos, dizia ser a encarnação do seu trisavô paterno, o famoso actor Francisco Leoni, fundador do Teatro da Trindade.Do lado da mãe, a história é mais comprida. O seu tio, António Cardoso Lopes Júnior, foi o fundador da famosa revista de banda desenhada "O Mosquito", pioneira em Portugal. A sua mãe, Mariana, aos dezoito anos, foi convidada pelo irmão para dirigir o suplemento feminino da revista, denominado "A Formiga". Assinava como Tia Nita e chegava a dar aconselhamento às muitas cartas de raparigas que chegavam à redacção. Pela sua tenra idade, nunca se deu a conhecer.Com esta tradição de família e um ambiente propício, era natural que Mário Viegas já brincasse aos quatro anos de idade com os fantoches que a mãe lhe dera. Não era criança para brincar de carrinhos e passava os dias a ler, fechado no quarto e a ensaiar as vozes das personagens que imaginava. Inventou o Teatro ABC, criava as personagens e desenhava os cartazes das peças de escrevia, espalhando-os pela casa. Já aos dez anos de idade, não havia festa ou sarau em Santarém que não fosse convidado para apresentar o seu teatro, sempre auxiliado pela sua irmã mais velha, Hélia Viegas.Nos seus 47 anos de vida, Mário Viegas fundou várias companhias de teatro - entre elas a "sua" Companhia do Chiado -, contracenou com Maria do Céu Guerra, fez inúmeras sessões públicas com Zeca Afonso e outros cantores de resistência, trabalhou com Carlos Avilez e encenou peças de vários autores, com especial ênfase para a obra de Samuel Beckett. No cinema, encarnou "Kilas, o Mau da Fita" (um dos filmes portugueses mais vistos de sempre), trabalhou com Manoel de Oliveira e contracenou com Marcelo Mastroianni e Victoria Abril. Na televisão, atingiu grande popularidade com o programa "Palavras Ditas, entre 1978 e 1982. Ao longo da sua vida, gravou catorze discos de poesia, onde declamou mais de 200 versos de Almada Negreiros, Alexandre O'Neill, Pablo Neruda, Ruy Belo, entre muitos outros.Nos seus últimos anos de vida, Mário Viegas não parou de surpreender. Autor de seus próprios textos, concebeu "Europa, Não! Portugal Nunca!!", um espectáculo em forma de conferência de imprensa onde personifica um pseudocandidato à Presidência da República. Levou tão a sério a sua preocupação com o estado geral do País, que participou nas eleições legislativas de 1995 como candidato independente pela UDP. Um ano antes, era galardoado por Mário Soares, então Presidente da República, com a Ordem do Infante D. Henrique.Dois meses antes da sua morte, a 1 de Abril de 1996, Mário Viegas entregou o seu espólio pessoal a sua sobrinha, com quem viveu os seus três últimos anos de vida. Ana Viegas é a filha que o actor não teve, nas palavras de sua mãe. Pressentindo o fim da sua vida, ensinou à sobrinha o que fazer com o material que acumulou, deixando instruções por escrito. Nos quadros que tanto gostava, escreveu por detrás: "Este quadro custou tanto, se um dia venderem, não se deixem morder", conta a mãe Mariana. Mesmo vivendo em Lisboa, Mário Viegas vinha sempre aos fins-de-semana à casa de família, pois "tinha saudades do seu quarto de garoto". Este quarto, onde ainda estão as suas almofadas, os seus quadros, os seus livros, é hoje o lugar em que a sua mãe gosta de sentar para escrever, à mesma secretária onde o filho criou as suas peças na infância. Foi neste lugar que escreveu a "última carta ao filho", que será o prefácio do catálogo da exposição que o Museu Nacional do Teatro está a preparar sobre a vida do filho famoso."
Alexandre Cavalcante In http://www.oribatejo.pt/capa2903.htm


Ontem passaram dez anos sobre a morte de Mário Viegas. Já não há pessoas assim, bonitas, revolucionárias, apaixonadamente trágicas. Talvez só nos fique o Zé Mário por morrer.
Vi o Mário Viegas em cena em 1995, portanto um ano antes da sua morte, sózinho à boca de cena a representar e a contar as suas histórias no Teatro do Chiado. Antes, à boleia em carro estranho ouvi pela primeira vez (sou sempre o último a saber, igual as gravidezes...) o seu diagnóstico, Mário Viegas tinha SIDA. E estava magro, em palco, mas igual a ele próprio, que aliás se apresentava como provável candidato a Presidente da República... Não percebo às vezes porque existimos, porque a Criação, a Mãe-Natureza se deu a este trabalho todo. E aí penso no Mário Viegas, ou brinco um pouco com a minha filha, penso nos fugazes amigos que vou criando ao longo dos anos, por entre os milhares de diários clínicos ilegíveis.
E acalmo.

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Jornalismo desportivo isento

"A vitória do Benfica não oferece dúvidas, mais pelo que jogou na primeira parte, embora o Belenenses tenha razões de queixa da arbitragem. Com efeito, terá ficado uma grande penalidade por assinalar, aos 49 m, quando Ricardo Rocha tocou no pé direito de José Pedro. Também ficou a ideia de que Manduca cortou um lance com a mão (77 m) na área de rigor, mas o árbitro Pedro Henriques assim não entendeu." in A Bola, sobre o jogo Belenenses-Benfica, que terminou 1-2.

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sábado, abril 01, 2006

O estranho caso da Caldeirada que não pagava imposto...

"O presidente do Sindicato da Pesca do Norte avisou o Governo que se avançar com a tributação da denominada “caldeirada” ou “quinhão”, os pescadores de Matosinhos vão paralisar a frota a partir de 1 de Abril. Este prémio, que de acordo com António Macedo é atribuído há pelo menos 20 anos aos pescadores do cerco/sardinha de Matosinhos, consiste na distribuição do valor conseguido com a venda dos primeiros cabazes e representa uma média de seis a sete euros por cada pescador. O sindicalista considera esta medida “inaceitável”, já que se trata de “um direito adquirido dos trabalhadores e não mais do que o correspondente ao subsidio de alimentação e/ou ajudas de custo, que todos ou quase todos os trabalhadores portugueses recebem”, sem que essas rubricas sejam tributadas para o IRS ou Segurança Social. António Macedo explicou que os pescadores de Matosinhos reuniram em plenário para decidir a paralisação, uma vez que a tributação da “caldeirada” estava agendada para o dia 13 e foi entretanto adiada para 1 de Abril. O sindicalista diz aceitar a necessidade de regulamentar estes valores e admite a possibilidade de serem deduzidos descontos sob os cabazes de sardinha que são retirados para efeitos de subsidio de Natal, mas exige que os restantes cabazes sejam considerados como o equivalente ao subsídio de alimentação e ajudas de custo a que os pescadores têm direito. A Lota de Matosinhos é considerada o maior ponto de descarga de sardinha da Europa e integra mais de 600 pescadores distribuídos por uma frota de 29 embarcações" (O 1º de Janeiro)

Ora vejam lá onde chega a corda na garganta dos nossos pobres governantes... forçados, contra de certeza a sua própria vontade socialista... em explorar um pouco mais os ricos pescadores, mais um caso típico de evasão fiscal...

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